quarta-feira, 27 de junho de 2012

Coronel Josh Williams - Difícil não se emocionar!


O que há por de trás de um uniforme de guerra?
Um ser humano sedento de violência

ou um guerreiro cujo coração está cheio de marcas que a vida deixou?
Lutar é preciso... vencer, nem sempre...


Coronel Josh Williams
Gosto de guerra! Tanques de guerra, uniformes de guerra, aviões, navios... Tudo de guerra! Principalmente os meus soldadinhos de guerra! Essa era a frase que qualquer um podia me ouvir falar.
Eu sempre ficava fascinado por tudo que fosse sobre guerra. Não sei se por causa dos filmes que assistia ou por causa das cores e desenhos que tinham os meus brinquedos.
Eu costumava brincar em frente da minha casa, assim aproveitava para ver o movimento. Tínhamos um vizinho que dificilmente falava com alguém, seu nome era Sr. Williams, ele morava sozinho, somente sua filha o visitava de vez em quando. Era um senhor alto e magro, com cabelos e barba perfeitos, roupas sempre bem alinhadas, gestos rápidos ao cumprimentar e uma cara carrancuda!!...Porém, um olhar triste e profundo. Alguma coisa o incomodava! Eu não entendia porque um homem assim cultivava flores, isso mesmo, flores, especialmente rosas e vermelhas, eram lindas... Mas a meu ver, isso não combinava com ele.
Ele não costumava prestar atenção em quase nada à sua volta, mas em mim, sempre sobrava um olhar visto pelo canto dos olhos, rápido, quase de relance, principalmente quando eu brincava de matar meus inimigos. Em algumas vezes, eu o vi vagarosamente abrir a cortina da janela da sua casa, e novamente lá estava ele. Dessa vez, fixando os olhos em meus soldadinhos. E repetiu esses olhares em outras vezes, quando ouvia The White Cliffs of Dover e suavemente colhia algumas flores.
Homem sério... Olhar triste... Colhendo flores... Nada disso combinava! Um dia, ele atravessou a rua e eu só percebi que ele se aproximou de mim, quando sua sombra escureceu meu campo de batalhas. Olhei lentamente para cima, trêmulo, mas confiante e logo pensei; soldados não se deixam abalar, mesmo quando o inimigo parece bem pior do que se imagina! 

Ele demorou, mas perguntou:
- Filho, o quê faz você gostar de guerra? 

Devagar fui me levantando e criando coragem para falar.
- Bem, eu ainda não sei, mas sei que gosto!
- Deixe eu te falar uma coisa, não pense que a guerra é algo bom. Ela destrói, mata, deixa filhos sem pais e o que era ilusão, se transforma em um eterno pesadelo.
Foi a frase mais profunda que eu já tinha ouvido, depois da minha, é claro. Mas ao contrário de mim, ele tinha certeza no que falava.
- Sr. Williams, como o senhor sabe? Não entende nada de guerras, só de flores!
- Acredite filho, eu sei!
Fiquei ali parado enquanto ele se virava rapidamente e voltava para sua casa. Olhei para o meu campo de batalhas e comecei a pensar no que tinha acabado de ouvir.
Semanas se passaram e em uma manhã de outono, acordei e olhei pela minha janela. Vi vários homens em frente da casa dele. Marinheiros, soldados, fuzileiros, um carro enorme preto... Achei que a guerra tinha começado, e bem ali em frente! Desci e fui ver tudo de perto, eu não sabia o que tinha acontecido. Me aproximei e continuei sem entender nada.
Eles foram embora. A única a ficar foi sua filha. Em suas mãos, uma rosa vermelha. Ficou ali por alguns minutos...foi embora e nunca mais voltou. Depois de muito tempo vazia, a casa foi vendida. Anos depois pesquisei sobre o Sr. Williams e descobri que ele era o Coronel Josh Williams, o responsável por mandar soldados para a guerra. Comandou vários combates e esteve à frente de quase todos e foi condecorado por vitórias que só agora eu sei que foram derrotas pessoais.

O tempo passou, mas eu entendi que cada rosa que ele plantava, era uma forma de se redimir dos erros do passado.
Eu ainda tenho meus soldadinhos! Gosto deles! Dos uniformes, dos aviões, dos navios... Não vou me desfazer deles! Gosto deles!
Continuo fascinado! Mas hoje, posso afirmar que se depender de mim, eu não vou precisar cultivar flores...


Lhú Weiss

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quinta-feira, 7 de junho de 2012

O Carrilhão

Se o ponteiro do seu relógio pudesse marcar sua vida, o que você escolheria?
A dor da perda de uma paixão ou a certeza de uma desilusão?

Faça sua escolha...
Tic...Tac..., Tic...Tac.




O Carrilhão
Tictac... tictac... Os relógios marcam os minutos... que marcam as horas...e marcam histórias de vidas que até hoje, continuam perdidas ao longo do tempo! Às vezes quando olho para meu relógio, lembro-me de uma história...
Fui com a minha família até a casa que era de meus bisavós. Estava fechada há mais de 10 anos, depois que a última família saiu de lá. Eram amigos que aos poucos retornavam para suas cidades. Os móveis, alguns ainda em bom estado, outros no sótão misturado a poeira e lembranças.
Minha avó não tinha boas recordações daquela casa. Mas, entrou e passo-a-passo foi reconhecendo cada objeto, enquanto caminhava pela sala. Eu, por minha vez, subi as escadas que me levaram direto até o sótão. Adoro coisas antigas! Algumas cadeiras... um baú vazio... algumas cortinas rasgadas..., nada tão interessante para se ver, se não fosse pelo que estava escondido atrás da cristaleira. Era um lindo carrilhão!! . Puxei a cristaleira, tirei um pouco do pó e fiquei observando-o por alguns minutos... Achei que minha avó não se importaria se eu ficasse com ele. Abri sua porta de vidro para dar corda nos pêndulos e ver se ainda funcionava. Enquanto eu mexia, um papel amarelado caiu de dentro da caixa dos ponteiros. Abri com cuidado e vi que era uma carta. Fui me sentando em uma cadeira empoeirada e li o que estava escrito. Fiquei curiosa para saber o quê tinha acontecido. Guardei-a em meu bolso e enquanto colocava a cristaleira no lugar, minha avó entrou e com um tom triste em sua voz me disse:
- Não mexa nesse relógio!
- Não, eu não mexi..., apenas tirei o pó, ele é lindo! Posso ficar com ele?
- Não, não póde! Ele fica do jeito que está e como sempre esteve!
- Mas está quebrado!
- Eu sei! Só eu sabia como consertá-lo e não vou fazer isso. Quero que sempre marque esta hora. E... vamos embora.
Enquanto ela se aproximava da porta, perguntei à ela quem era Melinda.
Com o olhar baixo, pensou e depois se virou para mim e sorriu.
- Meu irmão já contou algumas de minhas travessuras, não é mesmo? Todas as vezes que eu aprontava alguma coisa, não era eu, a Kírria, e sim a Melinda, meu segundo nome.
- Mais alguém te chamava por este nome?
- Não!
- Tem certeza?...
- Tenho...
Ela caminhou até a janela e olhou para fora. Seus olhos pareciam voltar no tempo.
- Sim,... Tinha mais uma pessoa, mas isso agora não importa...
- Por favor, me conte! Com minha mão dentro do bolso segurando a carta, insisti muito!
- Está bem! Será a primeira e última vez que vou contar. Prometa-me que nunca mais vai tocar neste assunto, com ninguém e principalmente comigo.
- Prometo!
Sentei-me no chão enquanto limpava uma das cadeiras. Ela sentou-se e me contou sobre um grande amor. O ano era 1941, os alemães perseguiam os judeus e não bastasse a guerra e os conflitos, muitos foram mortos. Ela conheceu um tenente alemão que entre uma e outra fuga se apaixonaram.
Ele já tinha matado vários judeus. Era conhecido como um homem de ferro do Comando e ela não confiava nele, mas estava apaixonada. Ele prometeu que a ajudaria levar sua família para outra cidade. Já estava tudo combinado! Mas um ataque surpresa, mudaria tudo...
Um dia, quando voltava para casa, em meio a ataques e tanta confusão, viu sua família entre sangue e violência. Sua mãe ainda desfalecendo, apontou para o carrilhão e em sua mão estava a insígnia de John. O sentimento de raiva tomou conta daquele momento e ela tinha certeza que John a tinha traído...
Naquela noite, sem pensar e sem entender o que tinha acontecido, ela fez chegar até ao Comando alemão, a insígnia e um bilhete dizendo que era John quem estava ajudando judeus a fugirem.
Dias depois, um amigo dele a procurou e disse que naquela mesma noite, ele foi morto na sua frente e o que o tinha matado, não foi o tiro e sim a dor de saber que foi ela quem o denunciou... Ele disse que seu olhar de tristeza era a dor mais profunda que um homem poderia sentir.
Ele perguntou a ela se a carta tinha chegado em suas mãos. Que carta? Perguntou minha avó ao amigo dele. (A carta em meu bolso...) Ela disse que esta foi a última frase que ele falou e foi embora. Ela não entendeu. Mas, eu entendi... Ele foi embora com a certeza de que ela não sabia das intenções de John. Nada do que ele disesse naquele momento mudaria o que tinha acontecido.
Fiquei com vontade de lhe mostrar a carta que estava em meu bolso, mas vi em minha avó um sentimento de dor misturado a muita tristeza...
Ela nunca soube a verdade... Fomos embora e até hoje, nunca mais toquei no assunto com ela.
Um dia desses, sentei-me à beira de um rio e lendo e relendo a carta, tive a certeza de que se minha bisavó não conseguiu contar a ela o que tinha acontecido, não seria eu quem contaria.
Parte da carta dizia o seguinte:

09/23/1941
“Querida Melinda,
Nossos planos mudaram. Pedi a seu tio Isaac que entregue
esta carta explicando novo local e horário. Espero que
ele tenha chegado a tempo. Junto com a carta, mando
minha insígnia, para que tenha certeza que sou eu.
Estarei te esperando...
Com amor,John’’

O tio Issac, esteve na casa dela antes do ataque...
Minha bisavó só teve tempo de esconder a carta no Carrilhão, porque sabia que era lá que ela a encontraria. Era uma espécie de esconderijo que só as duas sabiam. Mas, devido a tudo o que aconteceu, ela nunca mais tocou em nada.
Acredito que minha avó foi morrendo aos poucos, quando soube da morte de John. Ela só está aqui até hoje, porque tinha que cuidar de seu irmão mais novo, que conseguiu se esconder no sótão, durante o ataque.
O que teria acontecido se ela soubesse da carta antes? E o que mudaria se ela soubesse hoje?...
Entre devolver no mesmo lugar de onde encontrei e ficar lendo e relendo sem saber o que fazer, minha decisão foi de rasgar e jogar a carta no rio. Melhor assim...
O rio não vai mudar o que aconteceu, mas vai seguir o seu curso e suas águas calmas e tranqüilas levarão um passado marcado pelo tempo, que aquele Carrilhão não marcou nos seus ponteiros.
Tictac... Tictac... Tic... TAC.

Lhú Weiss
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