terça-feira, 30 de março de 2010

ABSINTO - Na dúvida, beba absinto...

Deixem seus corações bem longe de Josephine...
e suas carteiras também!


ABSINTO

Se vocês me perguntarem o que é mais inebriante, entre uma bebida forte ou uma linda mulher golpista, com certeza ficarei na dúvida. Há alguns anos atrás, peguei um caso para investigar, que envolveu meu irmão mais velho. Como um homem tão equilibrado e inteligente, perdeu tudo o que tinha por causa de uma dançarina? Eu não conseguia entender... até hoje!
Aqui na minha delegacia, sempre apareciam casos iguais. Mas resolvi investigar este a fundo, por ser com alguém da família.
Nas noites de sábado, o salão da cidade ficava lotado. Se vocês pensam que era por causa das músicas, estão enganados. Só tinham duas coisas que levavam os homens até lá; absinto e Josephine Dupret. Uma linda dançarina. Com seu parceiro Gerard, dançavam de tudo, mas era no tango que eles arrasavam.
Ruiva, olhos verdes, usando um vestido colado no corpo, não havia quem não ficasse de queixo caído. As luvas negras que ela usava a deixavam mais linda, principalmente quando ajeitava a rosa vermelha em seus cabelos!
Entre uma dança e outra, ela sempre tirava alguém para dançar. Depois, iam até o balcão, oferecia absinto e aproveitava para tirar também carteiras, relógios e o que tivesse de valor...os dedos ligeiros de Josephine, entravam em ação.
Todos aqueles homens eram roubados. As mulheres diziam, que ela colocava uma gota de perfume em suas bebidas, que os deixavam inebriados. Mas, quem se importava? Era Josephine! Ela não roubava! Eram eles que se deixavam levar por sua beleza! Não bastasse isso, eles ainda a cobriam de presentes, colares, jóias... era uma mulher de sorte! Mas como prender alguém, se não haviam queixas contra ela? Por mais evidências que se pudesse ter, ninguém queria ficar sem Josephine!
Resolvi me passar por um desses espectadores do balcão e deixar acontecer. Ela e Gerard entraram no salão. A euforia foi total! Todos gritavam seu nome! A fumaça dos cigarros pelo salão, contribuia para um clima de êxtase! Quanta sensualidade! Que olhar sedutor! Mas foi quando ela se aproximou e me tirou para dançar é que pude entender aqueles homens! Dessa vez, eu era o escolhido. Bebemos juntos e não me pergunte o quê, porque eu só enxergava Josephine! E foi assim a noite toda!
Pela manhã, depois de uma ressaca, só me lembrava que tudo à minha volta girava. Fui para a delegacia e decidido a não voltar mais no salão. Aos poucos, fui lembrando do que tinha acontecido! Caso encerrado! Não havia nada para fazer! Mas , quem se importava? Era Josephine!
Quando eu estava indo embora, batí a mão no bolso do meu casaco, não encontrei minha carteira... Com quem será que estava?
No sábado seguinte, quando eu estava dormindo, o telefone tocou e alguém na outra linha disse: Atirei em Josephine! Venha rápido!...
Agora eu tinha dois motivos para voltar ao salão!
Chegando lá, tarde da noite, salão fechado, tudo apagado, só encontrei na porta dos fundos, a senhora Vernège com uma arma nas mãos. Disse que reconheceu seu colar de pérolas no pescoço de Josephine! Não pensou duas vezes e voltou para dar um basta naquela golpista! Procurei por todo lado, não encontrei nada, nem corpo, nem Josephine! Apenas uma rosa vermelha no chão! A notícia se espalhou, mas ninguém soube o que de fato havia acontecido! Onde estava Josephine?
Nas noites seguintes de sábado, o salão continuou suas atividades, mas não como antes!
Alguns meses depois, eu recebi uma ligação da delegacia de uma cidade à alguns quilômetros e algo semelhante ao que aconteceu também estava acontecendo por lá. Fui até a outra cidade para averiguar.
Tudo era igual. O salão, os homens, as bebidas, a fumaça dos cigarros... e a dançarina! No balcão, só era servido absinto, na medida de um dedo do copo. Parecia que só estava esperando uma gota de perfume!
Será que aqueles homens tiveram suas carteiras furtadas? Seus bolsos esvaziados? Corações roubados? Mas, quem se importava?
Com certeza aquela dançarina ruiva, olhos verdes, alí na minha frente, não era Josephine! Claro que não! E aquelas luvas negras nas mãos, ajeitando a rosa vermelha nos cabelos? Não, não! Não mesmo! Por fim, aquele jeito sedutor de dançar, principalmente tango, deixava claro que não era ela...
Caso encerrado! Mas já que eu estava alí, resolvi aproveitar a noite! Então pedí ao garçom que servisse um absinto inebriante!
- Outro, senhor? Perguntou ele.
- Para mim não! Para qualquer um desses cavalheiros.
Porque o que eu queria, era ficar observando aquela linda dançarina destilando sensualidade pelo salão!
Afinal, quem se importava?
- Tim...tim cavalheiros!
Lhu Weiss

sexta-feira, 26 de março de 2010

PAPO KBEÇA - Olha os mano aí véio!

Vâmo pixá os muros...

PAPO KBEÇA

- Aí, Deck! Termina logo de pixá esse muro mano! Antes que os puliça aparece!
- Falta pouco Tap! Só que o esprei tá acabano, tá ligado? Sem grana, sem bufunfa... só uma lata...têm muito desenho ainda véio!
- Sacóde a lata! Vai que dá mano!
- No chance, tá ligado?...
- Aí ,Tá na hora de vazá! Váza, váza! Ó os home aí mano!
- Ô merda! O esprei foi no olho! Viu no que dá sacudí a lata? Vâmo escondê ali, naquele tubão! Entra! Entra!... 
- Aí? Já foram?
- Sei lá...véio! Acho que não...
- Mano que lugar é esse... sinistro!
- Esse chão? Com água até as canela? Móle? Acho que é nóis...
- Na fita? Já sabia! Cérto?
- É nóis... na bossta literalmente, cê tá ligado?
- Eu sei, eu sei! Tâmo sem grana di novo e o esprei acabou! Cérto?
- Errado! Usa o farejador e sente esse cheiro mano!
- Caráca véio! Cê peidô di novo?
- Mano? A tinta não afetou só o seu olho, o nariz também, né?
- Dá nada! Tô a fin de pixá, mano! Minha mão tá coçano!
- Véio! Se nóis estacioná akí, tudo vai ficá coçano mêmo, tá sabêno?
- Mano, cê só recrama! Crédo! Póde sê qualquer coisa! A arte não é só com esprei, valeu? Póde sê até barro! Tá ligado?
- Só se eu fabricá!
- Póde sê, véio!
- Então... se liga que eu tô a fin não... não tô com vontade agora não mano!
- Cara, como cê é porco! Seu, não! Eu falei barro! Póde sê esse aqui do chão...móle!
- Cê tá ligado que eu não vô botá minha mão aí, né?
- Tô! Dexa comigo mano! Cara recramão!
- Argh! Cê não tá vendo nada mêmo, né brow?
- Precisa! Eu sinto arte!
- Que nojo, mano! Cê tá ligado que tá fazeno bossta literalmente na parede, né?
- É! É isso! Bossta literária! Os mano que passá akí, vão gostá, tá ligado?
- Tô!... Cê que não véio!
- Aí, Tap! Que cheiro é esse?
- Não fui eu!
- Tá fedeno mano!
- Eu falei,...tá ligado? Tô caindo fóra... que os puliça já foram embora... e esse esgosto é o pior lugar prá se escondê! Fui!
- Ai,ai! Esgoto? Corre! Corre! Crédo! Por quê cê não falô mano?
- Eu falei! Cê que não ouviu cara! Táva com tinta no olho,...a fin de escrevê...! Deu no que deu mano!!
- Esgoto? Sái fóra! Váza! Váza!
- Tô vazano!
- Aí, Tap? Espera um pouco!... não tinha tinta... era esgoto... o quê foi aquela bossta que eu escreví lá na parede?
- Não escreveu mano!!... passou... literalmente!

Lhu Weiss

terça-feira, 23 de março de 2010

OS LENHADORES DE MORKENTOWN

Noites frias...
Nas montanhas...
Cuidado com o que está entre as árvores!





Os Lenhadores de Morkentown

Em uma noite fria, reunimos, um grupo para contar histórias em volta da fogueira! Outras pessoas convidadas também vieram para contar histórias, principalmente de terror. Um homem alto que veio acompanhado de um primo meu, prontificou-se a contar a primeira e começou falando:
- Algumas histórias, sempre nos deixam intrigados e essa que vou contar é um tanto quanto difícil de entender, acreditar então...
- No ano de 1920, era comum homens procurarem emprego de lenhadores. As empresas os contratavam e os levavam para as montanhas. Ficavam lá em cima por dias, às vezes por meses. Normalmente, eram amigos, pais e filhos, vizinhos, todos se conheciam, principalmente se eram de cidades pequenas. Mas em algumas temporadas, era comum que viessem estranhos de outros lugares. As montanhas de Morkentown, eram famosas. Por onde quer que você passasse, todos sabiam que por lá existiam as melhores árvores. Emprego garantido!
E foi lá que alguns desses estranhos chegaram para trabalhar. Entre eles, John Norhalae. Ninguém o conhecia, mas foi bem recebido. John era um homem forte, de traços marcantes e de muita personalidade. Fez amigos fácil!
Subiram as montanhas, montaram seus acampamentos e começaram seus trabalhos. John, não demorou, começou a se destacar entre eles. Bom lenhador, ajudava os amigos e era o melhor contador de histórias. Todos sempre queriam estar com John. Menos um. O velho Doug Parkerwille. Ele não gostava de John. Era um velho ranzinza, de poucos amigos, mas sempre estava nas montanhas. Trabalhava muito e falava quase nada.
Em um fim de tarde, quando todos voltavam para o acampamento, um barulho pôde ser ouvido entre as árvores. Era como se fosse alguém muito forte derrubando galhos e troncos. Em seguida, um grito assustador tomou conta do lugar. Por alguns minutos, todos ficaram imobilizados. Aquele grito ecoava pelas montanhas. Outros lenhadores de outros acampamentos se aproximaram assustados, perguntando o que tinha acontecido. Ninguém soube responder. Começaram então, contar seus homens. Somente três não estavam entre eles. Dois deles, eram John e o velho Doug. Mais de uma hora se passou e só então apareceram John, com muitos arranhões pelo corpo e o Velho Doug. John disse que estava escuro, só sentiu ser atacado, mas conseguiu fugir. Doug, por sua vez, ficou calado. Saíram em busca do outro homem, mas foi só no dia seguinte, que o encontraram arranhado, pescoço dilacerado,morto!
Nunca havia acontecido nada igual. Quem ou o quê o teria matado? Alguns acreditavam ter sido um urso gigante.
Dias depois, durante à noite, em volta da uma fogueira, enquanto eles bebiam e contavam histórias, o velho Doug observava John. Aproximou-se e perguntou como foi que ele escapou do suposto urso. John sorriu e disse que era muito forte. Mais forte do que todos pudessem imaginar! O velho perguntou se era forte o suficiente para fugir ou matar...Todos olharam para John e para Doug. O quê estava acontecendo alí? Acusações? Suspeitas?...
John levantou-se e sem falar nada, deixou Doug sem resposta. Os outros logo voltaram às bebidas e às histórias. Eles achavam que o velho estava delirando.
Em outros dias, outros homens também apareceram mortos. Decidiram que procurariam e matariam aquele urso. Que urso? Não havia nenhum urso!... Saíram em caçada e desta vez o grito de horror eclodia entre as árvores. Alguns homens com medo tentaram fugir, mas nunca conseguiram ir além do riacho, eram mortos.
Doug disse que era John quem estava matando os lenhadores. Que ele se transformava em um monstro grande e forte e se alimentava do sangue deles.
Todos disseram que Doug estava louco e que deveria ir embora. Mas nem Doug e nem os homens conseguiram. Foi uma noite de horror, uma carnificina total. Ninguém desceu das montanhas naquela temporada. Somente dois homens. John e Doug. Entre as pessoas da cidade, não houve quem não acreditasse que Doug era o monstro que matou aqueles lenhadores. Foi o único que tinha sangue em suas mãos e estava vivo! Foi internado como louco. John estava bastante machucado, mas recuperou-se. Foi interrogado, mas como não viu nada, não pôde ajudar nas investigações.
John prometeu à si mesmo que nunca mais voltaria naquelas montanhas. Em outras, talvez. Mas nunca sozinho, sempre acompanhado.
Depois disso, ninguém nunca mais o viu.
Hoje tenho certeza que ninguém sabe o que realmente aconteceu. E também não sabem do segredo de Doug.
- Que segredo? Perguntou um dos ouvintes em volta da fogueira.
- Doug tentou proteger os lenhadores, mas não tinha como controlar seu filho...
- Que filho? Uma outra pessoa, bastante assustada perguntou.
- John! Ele era o segredo que Doug tinha.
- Mas se era segredo, se ninguém desceu das montanhas, se ninguém nunca mais viu o John, como você sabe disso?
Então, ele levantou-se, começou a apagar a fogueira e disse:
- Porque ele, o velho Doug, era o meu pai...


Lhu Weiss

TIRINHAS DO BROW - Dia de chuva

Mais um dia do Brow...



Lhu Weiss

quarta-feira, 17 de março de 2010

REI ARTHUR

Na alma de um menino, a nobreza de um Rei...


REI ARTHUR
Problemas!... Esta é uma palavra que me persegue todo dia. Saio de casa para o trabalho e os problemas vão junto, volto e eles também. Por causa deles, já me chamam de arrogante!
Um dia, resolvi mudar o caminho, só para quem sabe, os problemas pudessem se perder e me esquecerem, um pouquinho só que fosse.
Estava eu, andando, quando ouço do alto do terraço de um sobrado, alguém gritando:
- Ei? Cavaleiro errante! Do quê tens medo? Erga essa cabeça e enfrente vossas batalhas!
Pronto! Não me faltava mais nada! Era um moleque, magrelinho, com uma capa vermelha de plástico, na mão uma espada feita de cabo de vassoura e na cabeça... uma coroa ridícula de papel! E ainda por cima, me chamando de cavaleiro errante! Eu devia estar merecendo mesmo. Tentei ignorar e continuei andando.
- Ei? Cavaleiro errante! Quem pensa que sois vós? Porque não atende ao Vosso Rei?
Ah, não! Aí já era demais! Parei bruscamente, olhei para ele e disse:
- Quem você pensa que é? Nem me conhece!! E fica se achando o dono do mundo!
- Dono do mundo, não! Mas dono do meu castelo e de meu reino! E vós sois meu súdito!
Naquela hora, achei ele bastante chato, mas dei corda...
- Fácil falar daí de cima, não é mesmo? Principezinho...
- Príncipe não! Rei...
- Ah, tá bom! Que Rei?
- Arthur! Rei Arthur! Vossa Majestade!
- Minha, nada! Daí de cima, tudo é tão fácil... Vêm aqui prá fóra do castelo e descubra como a vida é.
- Não posso! Mas, não me escondo atrás de um escudo como vós o bem fazeis! Sou Rei e minha coroa me garante isso! Enfrento minhas batalhas de peito aberto!
- Aí, Arthur? Vou embora, porque você só fala besteira, então... tchau...
Fui para o trabalho e até dei um pouco de risada. Tanta coisa para resolver e aquele conde, duque, sei lá o quê, me chamando de cavaleiro.
No dia seguinte, pensei em mudar o caminho novamente, mas eu tava mesmo a fim de pertubar aquele moleque...Quando me aproximei da casa dele e ele me viu, fui logo gritando:
- E aí? Conde? Matou muitos dragões hoje? Cuidado com o fogo...
- Conde não! Rei! Rei Arthur!...
Disse ele todo alegrinho!
- Não mato dragões, apenas enfrento batalhas. Uma por dia!
Não dei muita trela para ele e fui embora, mas ainda assim ouvi ele gritar:
- Ei? Cavaleiro errante? Sois mais feliz hoje!... Tenhais um bom dia!
O pirralhinho me deixou pensando no que ele falou. Realmente meu dia foi um pouco melhor. Na volta, já à noite, ele não estava lá. Acho que estava assistindo televisão ou dormindo e imaginando coisas.
Vários outros dias eram a mesma coisa...Já me sentia um cavaleiro errante, mas disposto a deixar o escudo de lado e resolver meus problemas.
Um dia, eu o ví sem sua coroa. Parei e perguntei:
- Ei? Rei Arthur? O quê aconteceu? Perdeu alguma batalha? Você não têm medo de nada!...
- Quase! E tenho medo sim! Tenho medo do Cavaleiro Negro!
- Ah, personagem novo...sei!
- Em algumas noites, ele vêm me assombrar...Travo uma batalha muito difícil e só assim ele vai embora...Um dia, eu sei, ele me levará para além das montanhas..., mas por enquanto o que me fortalece é o Anjo Branco que me visita todas as manhãs e me traz injeções de ânimo e força. Então reino soberano e absoluto!
Cabisbaixo, se despediu de mim e entrou.
Desconfiei que algo estava errado!
No outro dia, levei para ele uma coroa bem bonita, que eu mesmo fiz. Nunca me imaginei fazendo isso, enfim...Joguei-a para o alto do terraço. Ele sorriu e agradeceu. Colocou na cabeça e disse:
- Diante da grandeza de vossa parte, vou lhe nomear como um outro cavaleiro!
Ergueu sua espada e quase sem fôlego, gritou:
- Vós sois agora o Cavaleiro da Luz! Não tenhais medo! Em vosso caminho, ainda haverá muitas batalhas, mas sabiamente as derrotará, uma a uma! Ide em paz Cavaleiro!...
Nos tornaríamos amigos dalí por diante. Eu e o Rei Arthur! Porque eu comecei a gostar dele. Minha maneira de ver os problemas, agora estava diferente.
Por quatro dias seguidos, eu não o ví no terraço. Mais uma semana e... nada! Os negócios no escritório, estavam melhorando e os problemas foram sendo resolvidos um a um.
Um dia, ví uma senhora varrendo a calçada e perguntei se ela sabia alguma coisa sobre o menino e ela me falou que ele foi reinar além das montanhas!
- Ah, não! A senhora também não! Fiquei indignado!
- Por favor, eu gostaria de saber sobre fatos reais, pode ser?
- Pois bem, disse ela cruzando os braços e me olhando fixamente:
- O Sandrinho estava muito doente. Há anos ele lutava contra uma doença muito grave. Durante algumas noites, parecia que tudo piorava. Ele se debatia em prantos. Pela manhã, a médica dele trazia muitos remédios. Mas acredite ou não, eu acho que eram as histórias do Rei Arthur que ela contava, que o fez ser forte e viver além do que era esperado. Mas eu não quero acreditar que ele tenha morrido. Prefiro acreditar que ele está além das montanhas, enfrentando batalhas e reinando absoluto!
Fiquei sem palavras... Nunca me senti tão insignificante diante do que estava ouvindo... Fui embora e retomei a rotina do trabalho, mas de maneira bem diferente! Tinha que ser forte, afinal agora eu era o Cavaleiro da Luz!
Sempre penso nele...
Os anos passaram... Hoje as pessoas à minha volta, me vêem mais feliz e disposto. Até ganhei novos amigos..., de vez em quando, penso que um dia poderei ser rei...ter meu próprio castelo ! Mas por hora, enfrento batalhas... e sem escudo!
Então, eu pergunto:
- E você cavaleiro errante?... Do quê tens medo?...
Lhu Weiss

LIVRO DE RECEITAS - Você gosta de licor de figos?

Pequenos livros...
Grandes receitas...
Muitos amigos...




Livro de Receitas
No final do verão passado, comprei a casa que por muito tempo pertenceu aos Gray. Estava fechada por mais de 20 anos. Uma linda casa! Meu objetivo era comprar e revender, mas foi quando entrei na sala que tudo mudou. Alguns móveis velhos ainda estavam lá e entre eles, um pequeno baú. Dentro dele, havia algumas folhas soltas de um livro velho, que forravam o fundo. Eram folhas de um livro de receitas. Cada folha, uma receita. Recolhi uma a uma e fui colocando dentro do livro que tinha muitas outras tão maravilhosas quanto aquelas em minhas mãos. Algumas estavam grudadas, mal dava para ver o que estava escrito. Na volta para casa, enquanto organizava o livro, era impossível não imaginar o gosto dos bolos, das tortas, das geléias... e dos licores... ah!! um aroma contagiante...
Resolvi testar algumas das receitas. Enquanto eu terminava de preparar um dos bolos, alguém bateu na minha porta. Era uma vizinha, perguntando que cheiro bom era aquele. Convidei-a para entrar e juntas saboreamos aquele bolo. E isso se repetiu com a torta..., as geléias..., cada receita, uma pessoa na porta, todas trazidas pelo cheiro bom que pairava no ar. Fiz novos amigos, reencontrei outros e os laços de amizade com os mais próximos se fortaleceram. Minha casa já estava ficando pequena demais para tanta gente. Aquelas receitas eram mágicas. Conseguiram o que há anos eu estava tentando. No mês seguinte, mudei-me para a casa onde encontrei o livro e nas sextas-feiras, passou a ser um ponto de encontro. Em uma dessas tardes, uma senhora muito simpática, bateu em minha porta e disse que veio por causa do aroma do licor de figos. Ela entrou e enquanto eu lhe servia um cálice, ela me disse que estava muito feliz, pois estava realizando seu maior desejo:
- "Novamente um cálice de licor de figos e mais uma tarde entre amigos!"
Foi isso que ela me disse.

Ela aproximou-se da mesa e seus olhos brilhavam enquanto ela folhava o livro de receitas. Conversamos enquanto eu preparava uma torta de maçãs. Pedí a ela que ficasse, aumentando assim o grupo de amigos. Com os olhos marejados e um sorriso em seus lábios, ela me disse que era o que ela mais queria. Deixei-a na cozinha e fui receber outras pessoas que batiam na porta. Quando voltei, ela não estava mais lá. O livro estava fechado e ao lado dele sobre um punhado de farinha, eu pude ler: página 03.
Enquanto meus olhos percorriam a casa para encontrá-la, uma brisa leve passou por mim, apagando o que estava na mesa.
Depois que todos foram embora, abri o livro e desgrudei a página 03 da anterior, podendo assim ler o que estava escrito. Tinha uma dedicatória e dizia o seguinte:

“Estas receitas são mágicas e devem ser saboreadas por amigos, degustadas com amigos e estreitar laços entre amigos...
A magia está no fazer.
Comemore, deguste e brinde... principalmente se for com um cálice de licor de figos.”
   Adelaide Gray


Um ano depois, minha casa, de ponto de encontro, passou a uma casa de chás, aberta agora, todos os dias. O livro de receitas tem um lugar especial na entrada. Todos que chegam até aqui, sabem da história. Muitas outras são contadas entre os amigos, mas nenhuma se destaca mais que a do livro de receitas. Há quem de vez em quando deixe um punhado de farinha ao seu lado. Quanto à mim, bem, eu sempre deixo um cálice de licor de figos na mesa da cozinha... afinal, eu estou entre amigos...
Lhu Weiss

terça-feira, 9 de março de 2010

ROSAS COR DO CARMIM - Rosas da cor do carmim...para você e para mim.

Abra a porta, feche a porta,
Vai e vem, vem e vai...
Só quero rosas, se for da cor do carmim...



Rosas cor do carmim



Na rua das Laranjeiras, têm uma casa que têm uma chaminé.O dono dela é o Seo José. O Seo José é um homem de muitas alegrias,têm uma casa, uma horta, um jardim e três Marias.
Maria cuida da horta e no vai e vem e no entra e sai, nunca fecha a porta. Maria Isabela vive debruçada na janela, olhando as pessoas que ficam acenando para ela. "Como ela é bela!" Maria Jasmim, sempre cuidando do jardim, violetas, margaridas e principalmente rosas cor do carmim.
Todos estão sempre muito ocupados. E a porta sempre fica aberta. Resolvi então, dar um alerta!
- Maria, feche a porta!
- Não posso! Estou cuidando da horta...Peça a Isabela!
- Isabela, você pode fechar a porta?
- Não posso! Estou na janela...Peça a Jasmim!
- Jasmim, você pode fechar a porta?
- Não posso! Estou cuidando do jardim...principalmente das rosas cor do carmim. Peça ao Seo José!
Seo José é um homem muito ocupado e precisa das filhas para não ficar atarefado. Decidi eu mesma fechar a porta e quando me aproximei, senti um cheiro de torta! Torta na mesa e uma fumaça que saía pela chaminé... Hum...que cheiro bom de café!
Onde está o Seo José? Será que têm um pedaço para mim?
Vou pedir para Maria que cuida da horta, afinal eu fechei a porta.
- Maria, posso comer um pedaço de torta?
- Não peça para mim, agora estou cuidando do jardim, principalmente das rosas cor do carmim...
Peça a Isabela...
- Isabela você se importa? Eu pedí a ela... quero um pedaço de torta!
- Aqui ninguém se importa! Mas, agora tenho que cuidar da horta. Nesse vai e vem, entra e sai, eu ainda tenho que fechar a porta! Peça a Jasmim...
- Jasmim, eu quero um pedaço de torta... você pega para mim?
- Agora não posso! Estou na janela. Alguém passou e disse que sou bela, tenho que acenar para ela! Pode comer e não esqueça da canela. Peça ao Seo José...
- Seo José?... Seo José?... Posso comer torta e com café?
- Que torta? Que café? Estou ocupado, atarefado, tenho que limpar o telhado e a chaminé...vá embora! Nem pense em café! Saia da janela! Feche a porta e esqueça da torta com canela e quando sair faça um favor para mim, não pise nas flores, principalmente nas rosas cor do carmim!
Quanta confusão! Já é tarde e vou embora! Quando anoitecer, vou fechar a porta e a janela e dormir em lençóis de cetim. Quando acordar, vou fazer café e enquanto a fumaça sair pela chaminé, vou comer torta e abrir a porta e olhar pela minha janela, para ver se alguém traz para mim, uma rosa tão bela quanto as do jardim. Principalmente se for rosa cor do carmim!


Lhu Weiss

segunda-feira, 8 de março de 2010

O CARRILHÃO - Tic...Tac...

Se o ponteiro do seu relógio pudesse marcar sua vida, o que você escolheria?
A dor da perda de uma paixão ou a certeza de uma desilusão?

Faça sua escolha...
Tic...Tac..., Tic...Tac.




O Carrilhão
Tictac... tictac... Os relógios marcam os minutos... que marcam as horas...e marcam histórias de vidas que até hoje, continuam perdidas ao longo do tempo! Às vezes quando olho para meu relógio, lembro-me de uma história...
Fui com a minha família até a casa que era de meus bisavós. Estava fechada há mais de 10 anos, depois que a última família saiu de lá. Eram amigos que aos poucos retornavam para suas cidades. Os móveis, alguns ainda em bom estado, outros no sótão misturado à poeira e lembranças.
Minha avó não tinha boas recordações daquela casa. Mas entrou e passo-a-passo foi reconhecendo cada objeto, enquanto caminhava pela sala. Eu, por minha vez, subi as escadas que me levaram direto até o sótão. Adoro coisas antigas! Algumas cadeiras... um baú vazio... algumas cortinas rasgadas..., nada tão interessante para se ver, se não fosse pelo que estava escondido atrás da cristaleira. Era um lindo carrilhão!! . Puxei a cristaleira, tirei um pouco do pó e fiquei observando-o por alguns minutos... Acho que minha avó não se importaria se eu ficasse com ele. Abri sua porta de vidro para dar corda nos pêndulos e ver se ainda funcionava. Enquanto eu mexia, um papel amarelado caiu de dentro da caixa dos ponteiros. Abri com cuidado e vi que era uma carta. Fui me sentando em uma cadeira empoeirada e li o que estava escrito. Fiquei curiosa para saber o quê tinha acontecido. Guardei-a em meu bolso e enquanto colocava a cristaleira no lugar, minha avó entrou e com um tom triste em sua voz me disse:
- Não mexa nesse relógio!
- Não, eu não mexi..., apenas tirei o pó, ele é lindo! Posso ficar com ele?
- Não, não póde! Ele fica do jeito que está e como sempre esteve!
- Mas está quebrado!
- Eu sei! Só eu sabia como consertá-lo e não vou fazer isso. Quero que sempre marque esta hora. E... vamos embora.
Enquanto ela se aproximava da porta, perguntei a ela quem era Melinda.
Com o olhar baixo, pensou e depois se virou para mim e sorriu.
- Meu irmão já contou algumas de minhas travessuras, não é mesmo? Todas as vezes que eu aprontava alguma coisa, não era eu, a Kírria, e sim a Melinda, meu segundo nome.
- Mais alguém te chamava por este nome?
- Não!
- Tem certeza?...
- Tenho...
Ela caminhou até a janela e olhou para fora. Seus olhos pareciam voltar no tempo.
- Sim,... Tinha mais uma pessoa, mas isso agora não importa...
- Por favor, me conte! Com minha mão dentro do bolso segurando a carta, insisti muito!
- Está bem! Será a primeira e última vez que vou contar. Prometa-me que nunca mais vai tocar neste assunto, com ninguém e principalmente comigo.
- Prometo!
Sentei-me no chão enquanto limpava uma das cadeiras. Ela sentou-se e me contou sobre um grande amor. O ano era 1941, os alemães perseguiam os judeus e não bastasse a guerra e os conflitos, muitos foram mortos. Ela conheceu um tenente alemão que entre uma e outra fuga se apaixonaram.
Ele já tinha matado vários judeus. Era conhecido como um homem de ferro do Comando e ela não confiava nele, mas estava apaixonada. Ele prometeu a ela que a ajudaria levar sua família para outra cidade. Já estava tudo combinado! Mas um ataque surpresa, mudaria tudo...
Um dia, quando voltava para casa, em meio a ataques e tanta confusão, viu sua família entre sangue e violência. Sua mãe ainda desfalecendo, apontou para o carrilhão e em sua mão estava a insígnia de John. O sentimento de raiva tomou conta daquele momento e ela tinha certeza que John a tinha traído...
Naquela noite, sem pensar e sem entender o que tinha acontecido, ela fez chegar até ao Comando alemão, a insígnia e um bilhete dizendo que era John quem estava ajudando judeus a fugirem.
Dias depois, um amigo dele a procurou e disse que naquela mesma noite, ele foi morto na sua frente e o que o tinha matado, não foi o tiro e sim a dor de saber que foi ela quem o entregou... Ele disse que seu olhar de tristeza era a dor mais profunda que um homem poderia sentir.
Ele perguntou a ela se a carta tinha chegado em suas mãos. Que carta? Perguntou minha avó ao amigo dele. Agora eu entendi... Ela disse que esta foi a frase que ele falou e foi embora. Ela não entendeu. Mas, eu entendi... Ele foi embora com a certeza de que ela não sabia das intenções de John. Nada do que ele disesse naquele momento mudaria o que tinha acontecido.
Fiquei com vontade de lhe mostrar a carta que estava em meu bolso, mas vi em minha avó um sentimento de dor misturado a muita tristeza...
Ela nunca soube a verdade... Fomos embora e até hoje, nunca mais toquei no assunto com ela.
Um dia desses, sentei-me à beira de um rio e lendo e relendo a carta, tive a certeza de que se minha bisavó não conseguiu contar a ela o que tinha acontecido, não seria eu quem contaria.
Parte da carta dizia o seguinte:

09/23/1941
“Querida Melinda,
Nossos planos mudaram. Pedi a seu tio Isaac que entregue
esta carta explicando novo local e horário. Espero que
ele tenha chegado a tempo. Junto com a carta, mando
minha insígnia, para que tenha certeza que sou eu.
Estarei te esperando...
Com amor, John’’


O tio Issac, esteve na casa dela antes do ataque...
Minha bisavó só teve tempo de esconder a carta no Carrilhão, porque sabia que era lá que ela a encontraria. Era uma espécie de esconderijo que só as duas sabiam. Mas, devido a tudo o que aconteceu, ela nunca mais tocou em nada.
Acredito que minha avó foi morrendo aos poucos, quando soube da morte de John. Ela só está aqui até hoje, porque tinha que cuidar de seu irmão mais novo, que conseguiu se esconder no sótão, durante o ataque.
O que teria acontecido se ela soubesse da carta antes? E o que mudaria se ela soubesse hoje?...
Entre devolver no mesmo lugar de onde encontrei e ficar lendo e relendo sem saber o que fazer..., minha decisão foi de rasgar e jogar a carta no rio. Melhor assim...
O rio não vai mudar o que aconteceu, mas vai seguir o seu curso e suas águas calmas e tranqüilas levarão um passado marcado pelo tempo, que aquele Carrilhão não marcou nos seus ponteiros.
Tictac... Tictac... Tic... TAC.

Lhu Weiss

ÚNICO - Adoro janelas...

Você já deu uma espiada através de uma janela?
Algumas vezes, uma pequena curiosidade revela um mundo incrível!
Então, o que você está esperando?




Único

Era fim de tarde, um friozinho de outono tocava suavemente o meu rosto na volta do trabalho para casa. Minha atenção estava toda voltada para aquele banho quentinho, aquela xícara de café que me esperava em casa, quando ouvi risos que vinham de dentro de uma janela entreaberta da casa da esquina. Minha curiosidade nessa hora me fez ver, que meu banho poderia esperar alguns minutos. Aproximei-me da janela, olhei entre as cortinas que balançavam no mesmo ritmo da música que tocava em um gramofone. (Ah!! Quanto tempo eu não via um gramofone!!). Ao lado, estavam duas senhoras sentadas ao redor de uma pequena mesa, onde bolinhos e xícaras de chá pareciam atentos aos risos, que as duas misturavam entre as palavras. Me aproximei mais ainda e pude ouvir que falavam que ele era único,... Insubstituível,... O rei,... Único, único!... Cantavam juntas com a música e riam de uma época em que muitas aventuras aconteceram e pelo jeito, todas ao som daquelas músicas. Senti-me como um intruso, afinal, eram assuntos que interessavam somente a elas, mas eu já estava tão envolvido... Parecia os bolinhos, só sairia dali, se alguém me tirasse!
Meus minutos se transformaram em horas, não vi o tempo passar e acredito que elas também não me viram na janela. Cada música uma história, cada história muitos risos, que remetiam a uma saudade não só das histórias, mas principalmente daquela pessoa que elas tanto adoravam enquanto cantava e encantava. Quando dei por mim, sabia que precisava ir embora. Deixei aquela cena ainda com a ponta dos dedos deslizando sobre a janela, mas decidido que em outros dias, faria o mesmo, caso elas estivessem lá.
Fiquei atento e descobri que isso se repetia a cada uma vez por mês, os risos, os bolinhos, as xícaras de chá, as histórias, tudo igual... E a cada história, uma certeza: elas tinham razão, ele é realmente o único.
Nos mudamos no final da primavera para uma outra cidade. Nunca mais voltei para lá. Mas todas as vezes que me lembro daqueles maravilhosos fins de tarde, deixo minha janela entreaberta, têm pipoca e refrigerante, meu aparelho de som não tem o mesmo glamour do gramofone, mas os meus CDS têm as mesmas músicas! Não conto histórias, mas danço canto e fico esperando que alguém também se aproxime da minha janela e se identifique com aquela voz tão envolvente, daquele que sempre será único!
A música que toca agora me lembra bem aquela primeira vez em que me aproximei da janela e é mais ou menos assim: YOU ALWAYS ON MY MIND... YOU ALWAYS ON MY MIND...
Lhu Weiss

CORONEL JOSH WILLIAMS - Difícil não se emocionar!


O que há por de trás de um uniforme de guerra?
Um ser humano sedento de violência

ou um guerreiro cujo coração está cheio de marcas que a vida deixou?
Lutar é preciso... vencer, nem sempre...



Coronel Josh Williams
Gosto de guerra! Tanques de guerra, uniformes de guerra, aviões, navios... Tudo de guerra! Principalmente os meus soldadinhos de guerra! Essa era a frase que qualquer um podia me ouvir falar.
Eu sempre ficava fascinado por tudo que fosse sobre guerra. Não sei se por causa dos filmes que assistia ou por causa das cores e desenhos que tinham os meus brinquedos.
Eu costumava brincar em frente da minha casa, assim aproveitava para ver o movimento. Tínhamos um vizinho que dificilmente falava com alguém, seu nome era Sr. Williams, ele morava sozinho, somente sua filha o visitava de vez em quando. Era um senhor alto e magro, com cabelos e barba perfeitos, roupas sempre bem alinhadas, gestos rápidos ao cumprimentar e uma cara carrancuda!!...Porém, um olhar triste e profundo. Alguma coisa o incomodava! Eu não entendia porque um homem assim cultivava flores, isso mesmo, flores, especialmente rosas e vermelhas, eram lindas... Mas a meu ver, isso não combinava com ele.
Ele não costumava prestar atenção em quase nada à sua volta, mas em mim, sempre sobrava um olhar visto pelo canto dos olhos, rápido, quase de relance, principalmente quando eu brincava de matar meus inimigos. Em algumas vezes, eu o vi vagarosamente abrir a cortina da janela da sua casa, e novamente lá estava ele. Dessa vez, fixando os olhos em meus soldadinhos. E repetiu esses olhares em outras vezes, quando suavemente colhia algumas flores.
Homem sério... Olhar triste... Colhendo flores... Nada disso combinava! Um dia, ele atravessou a rua e eu só percebi que ele se aproximou de mim, quando sua sombra escureceu meu campo de batalha. Olhei lentamente para cima, trêmulo, mas confiante e logo pensei; soldados não se deixam abalar, mesmo quando o inimigo parece bem pior do que se imagina! Ele demorou, mas perguntou:
- Filho, o quê faz você gostar de guerra? Devagar fui me levantando e criando coragem para falar.
- Bem, eu ainda não sei, mas sei que gosto!
- Deixe eu te falar uma coisa, não pense que a guerra é algo bom. Ela destrói, mata, deixa filhos sem pais e o que era ilusão, se transforma em um eterno pesadelo.
Foi a frase mais profunda que eu já tinha ouvido, depois da minha, é claro. Mas ao contrário de mim, ele tinha certeza no que falava.
- Sr. Williams, como o senhor sabe? Não entende nada de guerras, só de flores!
- Acredite filho, eu sei!
Fiquei ali parado enquanto ele se virava rapidamente e voltava para sua casa. Olhei para o meu campo de batalha e comecei a pensar no que tinha acabado de ouvir.
Semanas se passaram e em uma manhã de outono, acordei e olhei pela minha janela. Vi vários homens em frente da casa dele. Marinheiros, soldados, fuzileiros, um carro enorme preto... Achei que a guerra tinha começado, e bem ali em frente! Desci, e fui ver tudo de perto, eu não sabia o que tinha acontecido. Me aproximei e continuei sem entender nada.
Eles foram embora. A única a ficar foi sua filha. Em suas mãos, uma rosa vermelha. Ficou ali por alguns minutos... foi embora e nunca mais voltou. Depois de muito tempo vazia, a casa foi vendida. Anos depois pesquisei sobre o Sr. Williams e descobri que ele era o Coronel Josh Williams, o responsável por mandar soldados para a guerra. Comandou vários combates e esteve à frente de quase todos e foi condecorado por vitórias que só agora eu sei que foram derrotas pessoais.
Demorou, mas eu entendi que cada rosa que ele plantava, era uma forma de se redimir dos erros do passado.
Eu ainda tenho meus soldadinhos! Gosto deles! Dos uniformes, dos aviões, dos navios... Não vou me desfazer deles! Gosto deles!
Continuo fascinado! Mas hoje, posso afirmar que se depender de mim, eu não vou precisar cultivar flores...


Lhu Weiss

DIÁLOGO - Essa é boa!

Se você é daquelas pessoas que perde a paciência com facilidade, então é melhor não
encontrar com o João por aí...Senão...O cê tá lascado!



Diálogo


- Ô Zé?
- Quê João...
- Já cansei de tanto cortá grama, cê não?
- Já...
- Vamo descansá um pouco?
- Vamo.
- Zé?
- O quê...
- Sabe essa grama que a gente cortô? Dá bem um travesseiro, dá não?
- Dá...
- Um prá mim,outro prô cê. Cê qué?
- Quero.
- Ah!...Deita aí Zé! Descansá faiz bem, né não?
- Ôpa!...
- Zé?
- Quê João...
- Tá vendo aquela árvore alí?
- Qual?
-Aquela do lado daquela outra, tá vendo não?
- Não.
- Ô Zé!...Aquela com folhas bem fininhas,bem alta,viu?
- Ví...
- Então?que cê acha dela?
- Bonita.
- Bonita? ...bonita é aquela dona que mora lá do outro lado da rua daqui da praça!...
- Vamo lá vê?
- Subí no muro? Tô fóra...
- Quem mandou ser tampinha e redondo...Eu te ajudo,subo fácil...vamo?
- Não vai dar certo...
- Zé?
- Quê João...
- Pára de mastigá mato. Sua mãe não falô que faz mal, não?
-Falô não... É só pra distraí...
- Conversa!...Cê tá disfarçando prá não subí no muro. Vamo?
- Vô não! Cê parece bambú, sóbe lá,depois me conta...
- Zé?
- Quê João...
- Não precisa...Lá vêm ela,olha lá,olha...não é ela?
- Acho que é...
- Zé?
- Quê...
- Se o cê tirá o boné da cara,dá prá vê, dá não?
- Acho que dá...
- Zé?
- Hum...
- Mulherão bonito, né?
- É...
- Zé?
- Heim...
- Olha!...Cabelos longos,...alta,...morena,...um corpão!...Será que ela têm cachorro?
- Sei lá?!...
- Zé?
- Fala...
- Queria sê o cachorrinho dela, cê não?
- Não.
- Por quê?...
- Prefiro comida do que ração...
- Zé?
- Tô aqui...
- Se eu fosse cachorrinho dela, ia ficá com ela,...andá com ela,...durmí no lado dela,...latí pra ela...
- Ô João?
- Que Zé...
- Cê tá variando?
- Tô não!
- Tá na hora da comida, tá não?
- Tá...
- Nóis têm muito que capiná aqui na praça, né não?...Então vamo cumê e de boca fechada, certo?
- Certo...
- Ô Zé?
- Quê?
- Me responde só uma coisa?
- Só uma.
- Cumé que eu vô cumê de boca fechada?...
- Ai ... MEU DEUS...


Lhú Weiss

CIELO BAR - Conheça essa figura!


Cielo Bar

Todas as quintas-feiras gosto de ir ao Cielo para ouvir Jose Mañanez cantando. Ele é muito querido por todos. Canta e toca um violão como ninguém. Por todo o México, só falam dele. Então, qualquer burburinho é motivo para prestar atenção. Alguém sempre tem uma história para contar.
As mulheres, se perguntarem a elas, todas já o abraçaram, beijaram e outras coisas mais...
Os homens são todos amigos dele e pelo menos uma noite na vida já cantaram com ele. Ninguém nunca viu, mas já cantaram! Já ouvi de tudo!... Mas, foi de um homem mal encarado que ouvi a pior de todas.
Ele entrou no bar acompanhado de mais dois homens e sentaram-se na mesa ao lado da minha. Colocaram suas armas sobre a mesa, esticaram-se nas cadeiras e pediram tequila. Por aqui isso tudo é normal. Pistoleiros da pior espécie, sempre aparecem. Mas como aquele, eu nunca tinha visto antes.
Jose cantava, enquanto aquele homem olhava para ele com os olhos cerrados e parecia balbuciar algumas palavras. De repente, bateu com a mão na mesa com força e disse para seus amigos:
- Quem conheceu Jose Mañanez como eu,... Sabe o que é viver entre a vida e a morte! E continuou com aquele olhar cerrado na direção de Jose.
Não pude deixar de ouvir, mesmo porque eu já prestava atenção desde a hora em que ele entrou.
Ele percebeu que eu o olhava com surpresa.
Levantou-se e veio até mim e perguntou quase que me comendo com os olhos:
- O que foi? Quer me fazer companhia?
Fechei os olhos, virei meu rosto para o lado, empurrei a cara dele com leveza... O cheiro era insuportável... Não só por causa da tequila, mas também pelo cheiro de cavalo misturado à falta de banho de pelo menos há um mês.
- Não, obrigado! Só venho aqui, para ver o Jose. O senhor o conhece?
- Se conheço? Vou te contar o que sei!
Sem perguntar se eu queria que ele ficasse ali, começou beber tequila, limpou a boca grosseiramente com a parte de cima de uma das mãos, chamou seus amigos, puxou uma cadeira e sentou-se.
Eu não tive escolha. Pedi um burrito acompanhado de uma tequila. Não bebo, mas tinha certeza de que naquela hora, era o que eu precisava.
Ele começou falando que Jose era um homem de duas vidas. Uma de noite, em que ele cantava e a outra, durante o dia, que ninguém conhecia. Disse que Jose era o pistoleiro mais sangrento que todo o México já tinha ouvido falar. Ele era o El Grande Matador, aquele que há alguns anos atrás a polícia deu como morto após uma perseguição. Não se sabe ao certo o que aconteceu. Não pude acreditar! Mas continuei ouvindo. E tomando tequila!
Ele disse que Jose Mañanez, o El Grande Matador, roubava porque sempre gostou de muito dinheiro. Durante o dia, em seu cavalo e com um lenço em seu rosto, roubava bancos..., trens..., e metia bala em quem atravessasse o seu caminho. À noite, com um jeito sedutor, gastava com as mulheres e bebia com os homens, como se nada tivesse acontecido.

Ele só temia uma coisa: DIOS! Porque todas as vezes que ele tinha que matar alguém..., sozinho, em silêncio, ajoelhava-se e pedia perdão, mas também pedia que o protegesse.
Olhei para Jose e a única semelhança visível, era o jeito sedutor. Eu não conseguia acreditar que eles eram a mesma pessoa!
Perguntei a ele porque estava me contando tudo aquilo e ele disse que aquela era a última noite em que Jose cantaria e que um acerto de contas o esperava lá fora.
- Não, não! Não é possível! Não esse Jose! E quem o espera lá fora? Fui logo perguntando sem deixar que ele falasse mais nada!
Ele levantou-se e de novo bateu na mesa dizendo:
- Se não acredita, pergunte à Jose sobre Cucha Miquita! Então, se ele fizer o sinal da cruz en su corazón... saberá que falo a verdade!
Tomou o último gole e foi embora.
Nessa hora eu já estava atordoado, não sei se por causa da tequila ou do cheiro que ainda pairava no ar que me esqueci de perguntar que acerto era aquele!
Jose tinha acabado de cantar e fui até lá. Eu o cumprimentei e entre as pessoas que se aglomeravam à sua volta, perguntei quase que gritando:
- Jose, Jose, uma pergunta: quem é Cucha Miquita?
Jose não pensou duas vezes, fez o sinal da cruz em seu coração e foi logo falando:
- Mi Madre de Dios! E saiu rapidamente!
Não podia ser! El Grande Matador! Agora eu acreditei!
Alguém disparou alguns tiros para o alto e a correria foi inevitável! Saí empurrado e lá na rua ninguém ficou para ver o que aconteceu! Longe dali, ainda ofegante, parei e fiquei imaginando qual seria a notícia dos jornais do dia seguinte.
Dias depois e nada de notícias. Ninguém sabia nada! Voltei ao Cielo e tudo estava como antes! A casa cheia, Jose cantando... E ninguém morreu! Agora é que eu não entendia mais nada, nada mesmo!
Dessa vez pedi água e ficaria sozinho na mesa, eu estava decidido!
Chamei o garçom e perguntei sobre o que tinha acontecido e enquanto ele manejava a bandeja de um lado para o outro, perguntou:
- Você não é daqui, não é?
- Não, não sou. Só estou de passagem, de férias!
Enquanto ele estendia a mão por algumas moedas em troca de informações, foi falando:
- Ah, sim! Toda vez que alguém pergunta a Jose sobre Cucha Miquita, começa a confusão, mas é tudo de mentira. É só para turista ver! É bom para a popularidade de Jose e para os negócios, sabe como é! Todo mundo gosta de histórias de pistoleiros, quanto mais real... Melhor! Ah, e o acerto de contas lá fora, é só o dinheiro que rola entre eles. Ele vem aqui uma vez por mês para ajudar na encenação, são amigos. Alguém sempre acredita!
- E eu caí nessa! Quando tudo parecia tão real... Aquele homem, realmente me deixou intrigado! Mas... Ele se chama Cucha Miquita mesmo? É pistoleiro? O que ele realmente faz?
O garçom puxou uma cadeira, sentou-se, colocou a bandeja sobre suas pernas e gritou para outro garçom:
- Por favor! Duas tequilas! E começou a contar:
- Pois bem,... Cucha Miquita é pistoleiro! Mas... Na verdade...

Se você quer saber quem é Cucha Miquita, aguarde...vem aí Cielo Bar II.

Mas, lembre-se: Ele pode estar em um bar bem próximo a você. Basta observar!


Lhú Weiss

BLUE MOON - Acreditar é essencial!

Viagem ao passado?
Entrar no portal do tempo?...
Contatos com outras dimensões?...
Não acredita?
Espere pela próxima Blue Moon e veja o que acontece...





Blue Moon

Noites de verão são sempre muito quentes, mas são maravilhosas, principalmente quando é noite de blue moon. A lua fica linda! Dizem que nessas noites, tudo é possível! Algo sempre acontece! E foi em uma dessas noites, que resolvi sair com meu carro sem destino. Peguei a estrada sem me preocupar aonde chegaria. No rádio, uma boa música e lá fora, a lua brilhava e iluminava meu caminho. Abaixei o capô do carro para vê-la melhor e a convidei para que me fizesse companhia! Cheguei próximo a uma cidadezinha onde alguns bares ladeavam a estrada e um deles me chamou a atenção. Era charmoso e parecia aconchegante. Velas em pequenos vasos davam boas vindas na entrada. Entrei, e enquanto esperava meu suco, olhei em um canto, quase que escondida, uma Juke Box. Não resisti e fui até lá. Sabe o que é uma Juke Box e bem ali na minha frente? Eu tinha que estar lá para ver isso de perto! Eu precisava vê-la tocando... Coloquei uma moeda e escolhi que música queria ouvir! Ela começou entrar em pane! Ligava e desligava, acendia e apagava e eu não sabia o quê fazer quando... Alguém se aproximou e bateu com a mão em cima de um dos botões. Ouvi um barulho e vi que uma abotoadura caiu no chão. Me abaixei para pegar e enquanto me levantava, meus olhos foram acompanhando aquela pessoa que estava ao meu lado. Ele era lindo!! Alto, moreno, usava gel nos cabelos e um terno preto que combinava muito bem com ele! Seu olhar, além de suave era hipnotizante! Que homem era aquele...!
Abri minha mão, e disse acho que isto é seu! Ele olhou fixamente em meus olhos e com um gesto sutil estendeu sua mão e me perguntou:
­- Você quer dançar?
Eu não sabia o que dizer! Mas se dissesse que não, me arrependeria pelo resto de minha vida!
Dançamos e conversamos a noite toda! Na Juke Box já tinha tocado I got You Babe..., Moody River..., Hurt e até mesmo Blue Moon.
Era como se estivéssemos nas nuvens... E a lua parecia que estava presente o tempo todo! Tudo era maravilhoso e nada mais importava!
A Juke Box começou entrar em pane, quando tocava Only You. Eu adoro essa música! Pedi licença e fui tentar fazer funcionar. Novamente ligava e desligava, acendia e apagava... Até que apagou de vez! Quando olhei para o lado... Estava sozinha. Meus olhos rapidamente começaram a procurar por ele. O garçom se aproximou e disse que meu suco já estava em minha mesa. Perguntei a ele se tinha visto o rapaz que estava comigo. Surpreendentemente ele disse que além de mim, havia somente um casal na mesa ao lado e mais ninguém. Insisti e falei que ele dançava comigo ao som da Juke Box e pedi: tente lembrar!!
- Impossível moça! Essa máquina só está aí de enfeite! Não funciona já têm uns cinco anos!... E saiu me olhando com um olhar de desconfiança...
Fui para casa e me questionava o tempo todo! Mas eu realmente sabia que tudo aquilo, tinha acontecido!...
Estou esperando pela próxima blue moon e vou voltar lá e reviver tudo de novo, vai dar certo! Porque por alguns minutos naquela noite eu voltei no tempo! Eu tenho certeza! E quando isso acontecer, será para sempre!!
Você deve estar se perguntando como é possível voltar no tempo! E eu posso afirmar que é. Porque um dia, quando tiver a oportunidade de abrir minha gaveta da cômoda, vai encontrar em uma pequena caixa, uma abotoadura esperando por outra...

Lhú Weiss

CHEGARAM AS TIRINHAS DO BROW

Fique esperto, cada semana uma história diferente!
Divirtam-se.


quinta-feira, 4 de março de 2010

ÁGUA NO SERTÃO - Está chovendo...

Acreditar que os sonhos podem se realizar é o segredo para que a alma, sinta o que os olhos não podem ver...chuva de emoções!
Você já tomou banho de chuva hoje?



Água no sertão

Minha cidade está localizada ao nordeste do sertão mais seco que se pode imaginar. Água por aqui, é coisa muito rara.
Por onde se olha, é sertão, sertão e mais sertão. As famílias foram se desfazendo aos poucos. Primeiro, os pais foram embora atrás de emprego, depois, foram os filhos, as mães, e as casas foram ficando abandonadas. É assim mesmo; sem água, sem nada!
Não chove já faz muito tempo. Água encanada, nem pensar. Só o caminhão-pipa é que chega até aqui uma vez a cada três semanas. Imagine quanto tempo leva para conseguir encher um balde! Mesmo com tanta gente indo embora, no dia da visita do caminhão, parece que todo mundo está de volta! É muita gente para pouca água!
Algumas pessoas não arredam o pé daqui de jeito nenhum! Eu mesmo sou uma delas, mas eu tenho um motivo e ele se chama Dona Amélia. Ela é minha avó. Tem oitenta e oito anos, é magrinha, um pouco teimosa, mas muito inteligente! Acompanha as notícias do mundo pelo seu rádio de pilhas e o que você quiser saber, dona Amélia sabe! Pergunte a ela!
Às vezes ela me acompanha até o caminhão. Uma de suas mãos, segura em meu braço e na outra, faz questão de levar um baldinho. E fica muito feliz de conseguir carregá-lo sozinha, principalmente na volta para casa.
Não é sempre que isso acontece, pois o caminho é longo, o sol é forte e o peso da idade e a catarata avançada, não permitem. Mas sair de vez em quando faz muito bem.
Dona Amélia adora banhar-se na água daquele baldinho. Parece mágica! Ela joga água para cima e quando cai, parece pingo de chuva. Não sei como ela faz, mas depois é só olhar para dentro do baldinho e parece que não caiu nenhuma gota fora dele! Não me pergunte, não sei como isso acontece!!
À noite não é muito difícil vê-la debruçada na janela com olhos voltados para as estrelas, porque isso acontece quase sempre. Eu sei que ela quase que não enxerga mais..., Mas ela sabe que é de cima que pode vir o que ela mais espera há tanto tempo... Chuva! Esse é o motivo pelo qual ela nunca quis ir embora. Ela acredita que uma boa chuva possa começar a qualquer momento e o sertão passe a ter seus filhos de volta.
Eu sabia que tinha que fazer alguma coisa! Um dia, no fim da tarde, depois de todos irem embora após encherem seus baldes, combinei com o Seu José, o do caminhão, para que me ajudasse a realizar o sonho da minha avó. Pegamos algumas latas, fizemos vários furos nos fundos e levamos até minha casa. Enquanto ela descansava, colocamos as latas enfileiradas, presas ao telhado. Não fizemos quase nenhum barulho. Anoiteceu e eu dei o sinal para o Seu José que nessa hora, já estava encima do telhado do outro lado, pronto para encher as latas e começar uma chuva como ela nunca sentiu.
Entrei, coloquei a mão em seu ombro e disse para que viesse comigo até a janela! Quando ela estendeu as mãos, um sorriso enorme tomou conta do momento. Ela não disse nada, foi até a porta, saiu e dançou na chuva sob as estrelas!... Fiquei em silêncio. O momento era somente dela.
Quando entrou e com as mãos molhadas procurou meu rosto, ela me disse:
- Bom menino!! Hoje, choveu...
Naquela noite, eu tenho certeza de que ela teve sua melhor noite de sonhos.
Todas as vezes que olho para ela, eu acredito que ela sabe como foi que caiu aquela chuva. Mas alguém tão inteligente não estragaria por nada aquele momento mágico!
Ainda estamos aqui. Dona Amélia está mais feliz. Ela ainda espera por chuva, mas aquela chuva, ela nunca mais vai esquecer... É um bom motivo para continuar por aqui... Afinal, sonhos se realizam...

Lhú Weiss

TIRAR RETRATO - Basta observar!


O que marca mais uma pessoa?
O tempo?
A essência?
Ou o que ela faz ao longo da vida?
Dê uma boa olhada em suas fotos, talvez elas possam dizer o que até hoje você ainda não descobriu...



TIRAR RETRATO

Se têm alguma coisa que a tecnologia não pode mudar é a beleza que um retrato têm. Me lembro bem como se fosse hoje. Família toda reunida, câmera fotográfica na mão e a caminho do lugar mais bonito que escolhemos. Não era muito longe de casa, apenas algumas ruas abaixo da minha. O ano era...bem, isso não importa. E por aqui o progresso ainda parecia distante. O terreno próximo a uma chácara parecia um grande gramado, alguns matinhos à sua volta tinham um tom rosado que pareciam flores, os eucaliptos além do cheiro de frescor, eram perfeitos para um piquenique à suas sombras, o riacho tinha peixes e a água era cristalina, algumas árvores emprestavam seus troncos para as balanças de corda que os pais faziam para seus filhos, o bairro ao lado, tinha um carinhoso apelido de pastinho. É que lá cabras, cavalos e alguns bois e vacas pastavam livremente...perfeito! Ali era o lugar para tirar um retrato da família. Naquela época, demorava pelo menos um mês para que o retrato ficasse pronto. A ansiedade era enorme, mas valia à pena. O papel tinha uma qualidade que até hoje não se compara com os atuais. As cores com o tempo, apenas suavizaram, mas o brilho do conteúdo é o mesmo. E o contorno do papel? Tinha uns recortes que formavam uma moldura e deixava o retrato uma maravilha!
Mas o progresso chegou. Nada mais lembra aquele lugar. Avenidas se estenderam às margens do que virou um córrego, prédios se ergueram onde eucaliptos davam sombras, casas foram construídas na chácara onde comprávamos verduras e os animais..., não sei para onde foram. Ah, sim! Nós também estamos diferentes! Aqueles tempos não voltam mais! Ainda tiramos fotos..., a família cresceu..., alguém em especial já se foi, outros chegaram e estão chegando..., outros lugares foram descobertos, mas a qualidade do papel, das cores, dos lugares, jamais será igual. E as pessoas também!...
Prefiro os retratos. Acredito que eles mostram muito mais do que se vê. A inocência no jeito de ser, a suavidade dos olhares, o sorriso maroto de cada um de nós... Isso tudo os retratos preservam até hoje.
Fotos e retratos não se comparam... b
ons tempos... bons retratos...
Bom lembrar...

Lhú Weiss

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