quinta-feira, 4 de março de 2010

ÁGUA NO SERTÃO - Está chovendo...

Acreditar que os sonhos podem se realizar é o segredo para que a alma, sinta o que os olhos não podem ver...chuva de emoções!
Você já tomou banho de chuva hoje?



Água no sertão

Minha cidade está localizada ao nordeste do sertão mais seco que se pode imaginar. Água por aqui, é coisa muito rara.
Por onde se olha, é sertão, sertão e mais sertão. As famílias foram se desfazendo aos poucos. Primeiro, os pais foram embora atrás de emprego, depois, foram os filhos, as mães, e as casas foram ficando abandonadas. É assim mesmo; sem água, sem nada!
Não chove já faz muito tempo. Água encanada, nem pensar. Só o caminhão-pipa é que chega até aqui uma vez a cada três semanas. Imagine quanto tempo leva para conseguir encher um balde! Mesmo com tanta gente indo embora, no dia da visita do caminhão, parece que todo mundo está de volta! É muita gente para pouca água!
Algumas pessoas não arredam o pé daqui de jeito nenhum! Eu mesmo sou uma delas, mas eu tenho um motivo e ele se chama Dona Amélia. Ela é minha avó. Tem oitenta e oito anos, é magrinha, um pouco teimosa, mas muito inteligente! Acompanha as notícias do mundo pelo seu rádio de pilhas e o que você quiser saber, dona Amélia sabe! Pergunte a ela!
Às vezes ela me acompanha até o caminhão. Uma de suas mãos, segura em meu braço e na outra, faz questão de levar um baldinho. E fica muito feliz de conseguir carregá-lo sozinha, principalmente na volta para casa.
Não é sempre que isso acontece, pois o caminho é longo, o sol é forte e o peso da idade e a catarata avançada, não permitem. Mas sair de vez em quando faz muito bem.
Dona Amélia adora banhar-se na água daquele baldinho. Parece mágica! Ela joga água para cima e quando cai, parece pingo de chuva. Não sei como ela faz, mas depois é só olhar para dentro do baldinho e parece que não caiu nenhuma gota fora dele! Não me pergunte, não sei como isso acontece!!
À noite não é muito difícil vê-la debruçada na janela com olhos voltados para as estrelas, porque isso acontece quase sempre. Eu sei que ela quase que não enxerga mais..., Mas ela sabe que é de cima que pode vir o que ela mais espera há tanto tempo... Chuva! Esse é o motivo pelo qual ela nunca quis ir embora. Ela acredita que uma boa chuva possa começar a qualquer momento e o sertão passe a ter seus filhos de volta.
Eu sabia que tinha que fazer alguma coisa! Um dia, no fim da tarde, depois de todos irem embora após encherem seus baldes, combinei com o Seu José, o do caminhão, para que me ajudasse a realizar o sonho da minha avó. Pegamos algumas latas, fizemos vários furos nos fundos e levamos até minha casa. Enquanto ela descansava, colocamos as latas enfileiradas, presas ao telhado. Não fizemos quase nenhum barulho. Anoiteceu e eu dei o sinal para o Seu José que nessa hora, já estava encima do telhado do outro lado, pronto para encher as latas e começar uma chuva como ela nunca sentiu.
Entrei, coloquei a mão em seu ombro e disse para que viesse comigo até a janela! Quando ela estendeu as mãos, um sorriso enorme tomou conta do momento. Ela não disse nada, foi até a porta, saiu e dançou na chuva sob as estrelas!... Fiquei em silêncio. O momento era somente dela.
Quando entrou e com as mãos molhadas procurou meu rosto, ela me disse:
- Bom menino!! Hoje, choveu...
Naquela noite, eu tenho certeza de que ela teve sua melhor noite de sonhos.
Todas as vezes que olho para ela, eu acredito que ela sabe como foi que caiu aquela chuva. Mas alguém tão inteligente não estragaria por nada aquele momento mágico!
Ainda estamos aqui. Dona Amélia está mais feliz. Ela ainda espera por chuva, mas aquela chuva, ela nunca mais vai esquecer... É um bom motivo para continuar por aqui... Afinal, sonhos se realizam...

Lhú Weiss

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...