sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

CIELO BAR

Conheça essa figura...


Cielo Bar

Todas as quintas-feiras gosto de ir ao Cielo para ouvir Jose Mañanez cantando. Ele é muito querido por todos. Canta e toca um violão como ninguém. Por todo o México, só falam dele. Então, qualquer burburinho é motivo para prestar atenção. Alguém sempre tem uma história para contar.
As mulheres, se perguntarem à elas, todas já o abraçaram, beijaram e outras coisas mais...
Os homens são todos amigos dele e pelo menos uma noite na vida já cantaram com ele. Ninguém nunca viu, mas já cantaram!
Já ouvi de tudo!... Mas, foi de um homem mal encarado que ouvi a pior de todas.
Ele entrou no bar acompanhado de mais dois homens e sentaram-se na mesa ao lado da minha. Colocaram suas armas sobre a mesa, esticaram-se nas cadeiras e pediram tequila. Por aqui isso tudo é normal. Pistoleiros da pior espécie, sempre aparecem. Mas como aquele, eu nunca tinha visto antes.
Jose cantava, enquanto aquele homem olhava para ele com os olhos cerrados e parecia balbuciar algumas palavras. De repente, bateu com a mão na mesa com força e disse para seus amigos:
- Quem conheceu Jose Mañanez como eu,... Sabe o que é viver entre a vida e a morte! E continuou com aqueles olhos cerrados na direção de Jose.
Não pude deixar de ouvir, mesmo porque eu já prestava atenção desde a hora em que ele entrou.
Ele percebeu que eu o olhava com surpresa.
Levantou-se e veio até mim e perguntou quase que me comendo com os olhos:
- O que foi? Quer me fazer companhia?
Fechei os olhos, virei meu rosto para o lado, empurrei a cara dele com leveza... O cheiro era insuportável... Não só por causa da tequila, mas também pelo cheiro de cavalo misturado à falta de banho de pelo menos há um mês.
- Não, obrigado! Só vim aqui, para ver o Jose. O senhor o conhece?
- Se conheço? Vou te contar o que sei!
Sem perguntar se eu queria que ele ficasse ali, começou beber tequila, limpou a boca grosseiramente com a parte de cima de uma das mãos, chamou seus amigos, puxou uma cadeira e sentou-se.
Eu não tive escolha. Pedi um burrito acompanhado de uma tequila. Não bebo, mas tinha certeza de que naquela hora, era o que eu precisava.
"Ele começou falando que Jose era um homem de duas vidas. Uma de noite, em que ele cantava e encantava, a outra, durante o dia, que ninguém conhecia. Disse que Jose era o pistoleiro mais sangrento que todo o México já tinha ouvido falar. Ele era o
El Grande Matador, aquele que há alguns anos atrás a polícia deu como morto após uma perseguição. Não se sabe ao certo o que aconteceu. Não pude acreditar! Mas continuei ouvindo. E tomando tequila!
Ele disse que Jose Mañanez, o El Grande Matador, roubava porque sempre gostou de muito dinheiro. Durante o dia, em seu cavalo e com um lenço em seu rosto, roubava bancos..., trens..., e metia bala em quem atravessasse o seu caminho. À noite, com um jeito sedutor, gastava com as mulheres e bebia com os homens, como se nada tivesse acontecido.
Ele só temia uma coisa: DIOS! Porque todas às vezes que ele tinha que matar alguém..., sozinho, em silêncio, ajoelhava-se e pedia perdão, mas também pedia que o protegesse".
Olhei para Jose e a única semelhança visível, era o jeito sedutor. Eu não conseguia acreditar que eles eram a mesma pessoa!
Perguntei à ele porque estava me contando tudo aquilo e ele disse que aquela seria a última noite em que Jose cantaria e que um acerto de contas o esperava lá fora.
- Não, não! Não é possível! Não esse Jose! E quem o espera lá fora? Fui logo perguntando sem deixar que ele falasse mais nada!
Ele levantou-se e de novo bateu na mesa dizendo:
- Se não acredita, pergunte à Jose sobre Cucha Miquita! Então, se ele fizer o sinal da cruz en su corazón... saberá que falo a verdade!
Tomou o último gole e foi embora.
Nessa hora eu já estava atordoado, não sei se por causa da tequila ou do cheiro que ainda pairava no ar que me esqueci de perguntar que acerto era aquele!
Jose tinha acabado de cantar e fui até lá. Eu o cumprimentei e entre as pessoas que se aglomeravam à sua volta, perguntei quase que gritando:
- Jose, Jose, uma pergunta: quem é Cucha Miquita?
Jose não pensou duas vezes, fez o sinal da cruz em seu coração e foi logo falando:
- Mi Madre de Dios! E saiu rapidamente!
Não podia ser! El Grande Matador! Agora eu acreditei!
Alguém disparou alguns tiros para o alto e a correria foi inevitável! Saí empurrado e lá na rua ninguém ficou para ver o que aconteceu! Longe dali, ainda ofegante, parei e fiquei imaginando qual seria a notícia dos jornais do dia seguinte.
Dias depois e nada de notícias. Ninguém sabia nada! Voltei ao Cielo e tudo estava como antes! A casa cheia, Jose cantando... E ninguém morreu! Agora é que eu não entendia mais nada, nada mesmo!
Dessa vez pedi água e ficaria sozinho na mesa, eu estava decidido!
Chamei o garçom e perguntei sobre o que tinha acontecido e enquanto ele manejava a bandeja de um lado para o outro, perguntou:
- Você não é daqui, não é?
- Não, não sou. Só estou de passagem, de férias!
Enquanto ele estendia a mão por algumas moedas em troca de informações, foi falando:
- Ah, sim! Toda vez que alguém pergunta a Jose sobre Cucha Miquita, começa a confusão, mas é tudo de mentira. É só para turista ver! É bom para a popularidade de Jose e para os negócios, sabe como é! Todo mundo gosta de histórias de pistoleiros, quanto mais real... Melhor! Ah, e o acerto de contas lá fora, é só o dinheiro que rola entre eles. Ele vem aqui uma vez por mês para ajudar na encenação, são amigos. Alguém sempre acredita!
- E eu caí nessa! Quando tudo parecia tão real...
Aquele homem, realmente me deixou intrigado!
- Mas... Ele se chama Cucha Miquita mesmo? É pistoleiro? O que ele realmente faz?
O garçom puxou uma cadeira, sentou-se, colocou a bandeja sobre suas pernas e gritou para um outro garçom:
- Por favor! Duas tequilas!
E começou a contar:
- Pois bem,... Cucha Miquita é pistoleiro! Mas... Na verdade...

Se você quer saber quem é Cucha Miquita, aguarde...vem aí Cielo Bar II.

Mas, lembre-se: Ele pode estar em um bar bem próximo a você... Basta observar!

Lhú Weiss

5 comentários:

  1. Gostei de ler a ficção. O humor está presente e a realidade é um presente para quem gostar dela.
    Jorge Manuel Brasil Mesquita
    Lisboa, 28/01/2011

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  2. Lhú, querida amiga, você transportou-me para o velho oeste em segundos. Mas, não se esqueça de avisar-me sobre a segunda parte deste conto que me deixou apreensivo, afinal, quem será Cucha Michita? Bom ficar esperto, principalmente depois do aviso que você deixou: "ele pode estar num bar próximo". Como no Brasil estamos proibidos de usar armas, o que será de mim se encontrá-lo pela frente? Será que os seis anos de karatê poderão servir frente a um pistoleiro desalmado que aciona o gatilho ao menor sinal de perigo? Estou gostando, amiga e quero ler a parte II.

    Beijos, bom final de domingo!

    Edward de Souza

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  3. LHÚ

    deixo o farol que serve para nos guiar.para nos unir e tantas vezes para Amar...


    O FAROL




    Este Farol...

    É diferente...

    É farol...

    Alto e longo...




    Alberga...

    Muitos sonhos...

    Muitas fantasias e...

    Muitas Amizades...




    Farol...

    Que gira...gira...

    Deixa um raio de luz...

    A propagar-se...

    Em todas as direcções...




    E aqui...

    Concretamente...

    Neste farol...

    Eu paro...




    Fico a olhar...

    E a meditar...

    Pois sinto...

    Que aqui...




    Neste farol...

    A cumplicidade...

    Está mesmo presente!...


    LILI LARANJO

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  4. Lhú Weiss

    Adorei o cow-boy que galopa pela planicio e o texto.

    Um beijo,

    Mª. Luísa

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  5. Querida Lhú, que saudades de você...
    Você é a melhor contadora de estórias e histórias que eu conheço...vc sempre se superando... quero saber o resto da estória! muitos bjssss pra vc!!!

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