quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

REI ARTHUR

Na alma de um menino, a nobreza de um Rei...


REI ARTHUR
Problemas!... Esta é uma palavra que me persegue todo dia. Saio de casa para o trabalho e os problemas vão junto, volto e eles também. Por causa deles, já me chamam de arrogante!
Um dia, resolvi mudar o caminho, só para quem sabe, os problemas pudessem se perder e me esquecerem, um pouquinho só que fosse.
Estava eu, andando, quando ouço do alto do terraço de um sobrado, alguém gritando:
- Ei? Cavaleiro errante! Do quê tens medo? Erga essa cabeça e enfrente vossas batalhas!
Pronto! Não me faltava mais nada! Era um moleque, magrelinho, com uma capa vermelha de plástico, na mão uma espada feita de cabo de vassoura e na cabeça... uma coroa ridícula de papel! E ainda por cima, me chamando de cavaleiro errante! Eu devia estar merecendo mesmo. Tentei ignorar e continuei andando.
- Ei? Cavaleiro errante! Quem pensa que sois vós? Porque não atende ao Vosso Rei?
Ah, não! Aí já era demais! Parei bruscamente, olhei para ele e disse:
- Quem você pensa que é? Nem me conhece!! E fica se achando o dono do mundo!
- Dono do mundo, não! Mas dono do meu castelo e de meu reino! E vós sois meu súdito!
Naquela hora, achei ele bastante chato, mas dei corda...
- Fácil falar daí de cima, não é mesmo? Principezinho...
- Príncipe não! Rei...
- Ah, tá bom! Que Rei?
- Arthur! Rei Arthur! Vossa Majestade!
- Minha, nada! Daí de cima, tudo é tão fácil... Vêm aqui prá fóra do castelo e descubra como a vida é.
- Não posso! Mas, não me escondo atrás de um escudo como vós o bem fazeis! Sou Rei e minha coroa me garante isso! Enfrento minhas batalhas de peito aberto!
- Aí, Arthur? Vou embora, porque você só fala besteira, então... tchau...
Fui para o trabalho e até dei um pouco de risada. Tanta coisa para resolver e aquele conde, duque, sei lá o quê, me chamando de cavaleiro.
No dia seguinte, pensei em mudar o caminho novamente, mas eu tava mesmo a fim de pertubar aquele moleque...Quando me aproximei da casa dele e ele me viu, fui logo gritando:
- E aí? Conde? Matou muitos dragões hoje? Cuidado com o fogo...
- Conde não! Rei! Rei Arthur!...
Disse ele todo alegrinho!
- Não mato dragões, apenas enfrento batalhas. Uma por dia!
Não dei muita trela para ele e fui embora, mas ainda assim ouvi ele gritar:
- Ei? Cavaleiro errante? Sois mais feliz hoje!... Tenhais um bom dia!
O pirralhinho me deixou pensando no que ele falou. Realmente meu dia foi um pouco melhor. Na volta, já à noite, ele não estava lá. Acho que estava assistindo televisão ou dormindo e imaginando coisas.
Vários outros dias era a mesma coisa...Já me sentia um cavaleiro errante, mas disposto a deixar o escudo de lado e resolver meus problemas.
Um dia, eu o ví sem sua coroa. Parei e perguntei:
- Ei? Rei Arthur? O quê aconteceu? Perdeu alguma batalha? Você não têm medo de nada!...
- Quase! E tenho medo sim! Tenho medo do Cavaleiro Negro!
- Ah, personagem novo...sei!
- Em algumas noites, ele vêm me assombrar...Travo uma batalha muito difícil e só assim ele vai embora...Um dia, eu sei, ele me levará para além das montanhas..., mas por enquanto o que me fortalece é o Anjo Branco que me visita todas as manhãs e me traz injeções de ânimo e força. Então reino soberano e absoluto!
Cabisbaixo, se despediu de mim e entrou.
Desconfiei que algo estava errado!
No outro dia, levei para ele uma coroa bem bonita, que eu mesmo fiz. Nunca me imaginei fazendo isso, enfim...Joguei-a para o alto do terraço. Ele sorriu e agradeceu. Colocou na cabeça e disse:
- Diante da grandeza de vossa parte, vou lhe nomear como um outro cavaleiro!
Ergueu sua espada e quase sem fôlego, gritou:
- Vós sois agora o Cavaleiro da Luz! Não tenhais medo! Em vosso caminho, ainda haverá muitas batalhas, mas sabiamente as derrotará, uma a uma! Ide em paz Cavaleiro!...
Nos tornaríamos amigos dalí por diante. Eu e o Rei Arthur! Porque eu comecei a gostar dele. Minha maneira de ver os problemas, agora estava diferente.
Por quatro dias seguidos, eu não o ví no terraço. Mais uma semana e... nada! Os negócios no escritório, estavam melhorando e os problemas foram sendo resolvidos um a um.
Um dia, ví uma senhora varrendo a calçada e perguntei se ela sabia alguma coisa sobre o menino e ela me falou que ele foi reinar além das montanhas!
- Ah, não! A senhora também não! Fiquei indignado!
- Por favor, eu gostaria de saber sobre fatos reais, pode ser?
- Pois bem, disse ela cruzando os braços e me olhando fixamente:
- O Sandrinho estava muito doente. Há anos ele lutava contra uma doença muito grave. Durante algumas noites, parecia que tudo piorava. Ele se debatia em prantos. Pela manhã, a médica dele trazia muitos remédios. Mas acredite ou não, eu acho que eram as histórias do Rei Arthur que ela contava, que o fez ser forte e viver além do que era esperado. Mas eu não quero acreditar que ele tenha morrido. Prefiro acreditar que ele está além das montanhas, enfrentando batalhas e reinando absoluto!
Fiquei sem palavras... Nunca me senti tão insignificante diante do que estava ouvindo... Fui embora e retomei a rotina do trabalho, mas de maneira bem diferente! Tinha que ser forte, afinal agora eu era o Cavaleiro da Luz!
Sempre penso nele...
Os anos passaram... Hoje as pessoas à minha volta, me vêem mais feliz e disposto. Até ganhei novos amigos..., de vez em quando, penso que um dia poderei ser rei...ter meu próprio castelo ! Mas por hora, enfrento batalhas... e sem escudo!
Então, eu pergunto:
- E você cavaleiro errante?... Do quê tens medo?...
Lhú Weiss

8 comentários:

  1. Espero que o rei Arthur tenha encontrado, lá no reino onde ele governa, a paz que nunca encontrou na vida, e que a Weiss tenha aprendido a usar, com mestria, a luz que ganhou.
    Jorge Manuel Brasil Mesquita
    Lisboa, 20/01/2011

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  2. Lhú, me explica esse texto... é de sua autoria? Se for, me fez chorar. Está brilhantemente escrito, é de grande sensibilidade, e é uma idéia formidável. Se não é seu, parabéns pela escolha. Bem, um dia desses também serei rainha e, enquanto isso, vou lutar minhas batalhas com muito mais coragem.
    Obrigada por compartilhar.
    Beijokas.

    PS: Seu blog está lindo!!!

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  3. Querida amiga Lhú Weiss, comovente história do pequeno e destemido Rei Arthur. Não há limite para a força da imaginação. Por ela podemos atravessar paredes, voltar no tempo, viajar pelo espaço sideral, conhecer galáxias distantes. Também para a inventividade e o trabalho. Eles nos levam a descobertas, à criação de novas tecnologias, permitem estabelecer metas e ampliar as fronteiras do progresso, ensejam as bases de um mundo novo e permitem a realização de nossos desejos. Imaginação, inventividade e trabalho são aliados para que possamos sobreviver e aproveitar nossa existência da melhor forma possível.

    Parabéns pelo bonito texto deste fim de semana!

    Bjos,

    Edward de Souza

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  4. Very sensitive. I like these stories from the Middle Ages and antiquity. They are so unbelievable and yet so much truth in there ...

    Best wishes from frosty Germany
    Kvelli

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  5. Olá, amiga!
    Não sei como, tentando descobrir seu site a partir do seu nome "Lhú Weiss", fui encaminhado para um post de Junho de 2010 com a deliciosa banda sonora do "Candelabro Italiano"!... Falha minha, não me apercebi de que a net me "atirara" para esse post, levando-me a pensar que o seu blogue estava parado! Desculpe o erro porque, de vardade, está bem vivo, como prova o óptimo texto que aqui nos apresenta!
    Afinal, "cavaleiro errante" parecia eu, pobre de mim!...
    Beijinhos e bom domingo!

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  6. Olá, amiga!
    Que texto mais lindo... uma lição de vida!
    Às vezes reclamamos por tão pouco...
    Amei o seu blog.
    Boa semana!
    Beijinhos.
    Brasil
    ✿ܓܓ ♫
    °º
    •*• ♫° ·.

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  7. Linda amiga!
    Que saudade de você! Ainda hoje estive pensando nas pessoas queridas que há tempos não vejo...e lembrei-me de você!
    Estou em férias escolares, viajei, e agora retorno.
    Quero que saiba que te aprecio de montão! E agradeço a amável visita aos Botões de Madrepérola (acho que vc conhecia o outro...o Anjo).
    Fiquei feliz, volte sempre, pois esse blog literário estará sempre te esperando!

    Essa história comoveu-me muito, e tb pergunto: foi vc que escreveu?
    Beijos,
    Graça Lacerda

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